red bull no teto do mundo - te dá asas...

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umich.edu

ब्रुना सोअल्हेइरो

Rio de Janeiro, RJ, Brazil

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Conforme vem sendo amplamente divulgado pela imprensa, o filho de um famoso ortopedista foi vítima de assalto enquanto dirigia pela Av. Edison Passos, no bairro do Alto da Boa Vista, no sentido Tijuca-Barra da Tijuca. Infelizmente, há algo de corriqueiro nesta notícia, mas, neste caso específico, fui pessoalmente tocada por este acontecimento.

Moro na Av. Edison Passos, local do ocorrido, desde meus cinco anos de idade. Cresci a um quarteirão da escola municipal em cujo muro chocou-se o automóvel da vítima. Quando menor, costumava caminhar com meus pais pelas bucólicas ruas da redondeza nos fins de semana. Neste início de ano, fazia planos para doar alguns livros e incrementar a biblioteca da dita escola, onde estudou a filha do funcionário do prédio onde moro.

Há alguns meses, um grande amigo também fora vítima de assalto próximo à minha casa. Mesmo entregando aos ladrões o que lhe foi pedido, um dos bandidos atirou e, por sorte, a bala apenas queimou-lhe a camisa.

Há algumas semanas a porta de vidro do meu prédio recebeu uma pedrada que lhe abriu um rombo no vidro, ao que se sabe, gratuitamente.

Há algo de tragicamente vulgar no ocorrido. Algo de melancolicamente cotidiano. É reconhecer o costumeiro e virar-lhe a cara para fingir que não está mais lá. Há um cinismo no nosso habitual ir e vir, em nosso caminhar, em nosso viver. Há uma cumplicidade, quase uma conivência, de cada um de nós quando observamos o Estado instalar um pardal num local como aquele onde aconteceu o último assalto e não fazermos nada. Reclamarmos, sem tomar qualquer decisão concreta. Anunciamos a tragédia, narramos uma possibilidade futura como se ela já fizesse, repetitivamente, parte de nosso dia-a-dia:

"Não demora muito alguém vai ser assaltado aqui"

Aconteceu. Na frente de uma escola municipal, na altura de um pardal, numa área de preservação ambiental e recuperação urbana (APARU).

Ao Estado, que detém, ou pelo menos deveria deter, o monopólio da Fiscalidade e da Coerção, dirijo-me:

Chega do policiamento vergonhosamente deficitário entre o largo da Usina e a estrada Velha da Tijuca;

Chega da instalação irresponsável, arbitrária e ilegítima destes "postos de arrecadação fiscal", apelidados de "pardais";

Chega da falta de sinalização adequada nas proximidades de escolas, como placas, faixas de travessia de pedestres e acompanhamento diário de um profissional da CET RIO e/ou guarda municipal;

Chega da iluminação "noir", da sombra - noturna - que as árvores proporcionam frente à parca iluminação pública da avenida;

Chega de assistirmos o dinheiro dos impostos perderem-se como a imundice que escoa pelo rio maracanã;

Chega dos lamentos póstumos, das tragédias anunciadas e da banalização da segurança pública;

Chega de descaso, demagogia, bla-bla-bla, conversa pra boi dormir, lei pra inglês ver;

Basta, porque hoje até o meu cinismo costumeiro "pediu pra sair".